domingo, 9 de maio de 2010

Deus é Amor. E a Igreja?

Tenho visto nos últimos anos um aumento considerável no número de pregações que alertam para a necessidade de cada um tomar sua cruz e seguir a Cristo, compartilhando do seu sofrimento. Essa é uma palavra muito nobre, que pode ser encontrada em diversos trechos da Palavra de Deus. John Piper tem um sermão intitulado "You will suffer", cujo link segue abaixo:



Em um contexto no qual a igreja tem se deixado levar por tantos ventos de (falsa) doutrina, é importante esclarecer como deve ser a conduta da igreja aqui nessa terra.
No entanto, tenho notado uma exagerada e perigosa ênfase no sofrimento, e não no propósito do sofrimento. Acredito que o sofrimento pelo sofrimento não é virtude. Inúmeras seitas orientais, por exemplo, dão extrema importância ao flagelo, mas não serão salvas.

É importante ressaltar, não o sofrimento, mas o propósito deste. Repare nos destaques em itálico:
"E o irmão entregará à morte o irmão, e o pai o filho; e os filhos se levantarão contra os pais, e os matarão. E odiados de todos sereis por causa do meu nome; mas aquele que perseverar até ao fim será salvo". (Mateus 10: 21-22).
"E, se nós somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus, e co-herdeiros de Cristo: se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados. Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada." (Romanos 8: 17-18)
"Porque a vós vos foi concedido, em relação a Cristo, não somente crer nele, como também padecer por ele, Tendo o mesmo combate que já em mim tendes visto e agora ouvis estar em mim. (Filipenses 1: 29-30)
E assim por diante, em 2 Timóteo 1:8, Atos 5:41.

John Piper conclui: "Porque não há outra maneira que o mundo possa ver a suprema glória de Cristo hoje exceto que rompamos com a disneylândia que é a América e começamos a viver um estilo de vida de sacrifício missionário o qual mostrará ao mundo que o nosso tesouro está no céu."

Acredito que essa é uma explicação válida em um certo contexto, porém incompleta. Na minha opinião não é o sofrimento, exclusivamente, que revelará ao mundo a glória do Pai, mas sua associação com o amor praticado na congregação dos santos.

Como já foi citado no post anterior, no século II, Tertuliano declarou: "Vejam como esses Cristãos se amam!" Foi o amor e a caridade em meio à perseguição que chamou a atenção dos romanos.

A igreja dos primeiros séculos era conhecida em toda parte "pelo cuidado com os pobres, viúvas e órfãos; pelas visitas aos irmãos nas prisões ou aos condenados a viver nas minas; e pelos atos de compaixão durante a carestia, terremotos ou guerras." (SHELLEY, p. 40)

Essa preocupação da igreja em manter a unidade entre os irmãos e em difundir o amor acima das adversidades pode ser vista claramente em diversos escritos da igreja primitiva. O apócrifo do século I chamado Didaquê (ou Instruções dos Apóstolos) era tido como um manual litúrgico que circulava entre as congregações naquela época. Esse livro dá instruções para o tratamento que deveria ser dado aos pregadores, quanto ao abrigo nas suas casas, etc. Apesar de não ser um texto canônico, é uma leitura muito interessante para se ter um retrato de como era a rotina do corpo de cristo nos primeiros anos dessa era. (Existem links para o texto no google. Não me sinto a vontade para colocar aqui).

Para encerrar, tenho uma última questão a levantar. Percebo que às vezes alguns cristãos têm um zelo tão grande por uma determinada doutrina, que alguns acabam por colocar certos preceitos teológicos acima da comunhão e do amor. Muitas vezes corremos o risco de nos fecharmos em nossos conceitos e ignoramos o clamor que o mundo nos faz para conhecer a palavra. Nos tornamos tão críticos que acabamos afastando aquele que tenta se aproximar do evangelho, e magoamos os irmãos ao nosso redor. Permitam-me contar uma história real:

Um pastor estava conversando com um grupo de crentes interessados em tirar dúvidas sobre um certo ramo doutrinário. Após horas de conversa, uma mulher que se tinha ficado calada todo o tempo o chamou para uma conversa em particular. O pastor assim narra a história:

"Sentamo-nos novamente e ela começou um conto de luto. Ela era esposa de um pastor. Sua vida e ministério tinham sido felizes e enriquecedores, até o marido e dois amigos próximos que também eram os pastores passaram a se interessar por uma "verdade nova". Todos os três eram muito intelectuais. Como resultado da nova leitura[...], [foram]atraídos para o desafio de estudar os escritos de [certos autores de uma determinada doutrina]. Seu estudo, [...], acabou se tornando quase uma obsessão. Então, cada um deles começou a pregar a sua "nova luz" de seus púlpitos. Depois de terem sido avisados várias vezes para desistir de doutrinar suas congregações, eles foram removidos de seus pastorados pela sua denominação. O marido começou [a ter dúvidas]. As frequêntes indagações explodiram em dúvidas sobre sua salvação. [A tal doutrina], que outrora parecia tão satisfatóri[a] começou a persegui-lo com a incerteza de saber se ele foi [salvos].
"Você nunca foi atraído por ela? [Por essa doutrina]" Eu perguntei.
Ela balançou a cabeça. "Eu não sou intelectual - pode ser por isso que ela nunca me atraiu. Mas não era pra Deus ser um Deus de amor? [...] Lágrimas vieram aos olhos. Enfim, ela continuou: "Eu ficava tentando dizer ao meu marido que o Deus no qual agora ele ecreditava, um Deus que [...], não era o Deus que eu conhecia e amava. ... " (Tradução livre do livro "What love is this" de Dave Hunt, omitindo trechos que poderiam revelar a doutrina em questão).

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